[Resenha] Cem dias na prisão | Marcos A. Junior

Cem dias na prisão

Autor(a): Marcos A. Junior
Editora: Giostri
Páginas: 223
Resenha por: Viviane

Avaliação: 4/5
Compre: Americanas / Buscapé / Editora
*Livro cedido pelo autor para resenha



Sinopse: O presente de aniversário de 18 anos de Thomaz foi uma inexplicável prisão. Seus dias naquele lugar horrendo foram os piores que já vivera. A única salvação para o aspirante a escritor foi relatar todos os seus pensamentos e sentimentos em um caderno velho, tentando manter-se o mais afastado possível do mal.

Por muito tempo o terror do ambiente foi repelido de suas ponderações, mas a terrível rotina da penitenciária fez incisões massacrantes em sua mente. Os acontecimentos ficaram mais sombrios e a real redenção cada vez mais distante.

Resenha: Pode uma circunstância mudar o caráter de uma pessoa?

O livro é literalmente um diário, onde vamos conhecer em detalhes todos os cem dias que Thomas ficou na prisão. Aos poucos vamos descobrindo seu nome, idade, personalidade, vínculos familiares e, o principal, o motivo que o levou a ser preso.

Thomas é um jovem de 18 anos que no dia de seu aniversário foi vítima de uma cilada, pois confiou em quem não deveria, e agora não confia em mais ninguém. Na prisão, desde o primeiro dia, procurava manter-se invisível; não olhava nem falava com ninguém, a menos que fosse requisitado. Após alguns dias, alguém puxou conversa, um outro preso de 21 anos, da mesma cela, mas no outro dia o rapaz foi assassinado dentro da prisão. Ninguém sabe dizer quem foi e, se sabe, nunca dirá.

Nosso protagonista ficou inicialmente em uma cela muito apertada e com muitos outros presos; o calor era escaldante, o cheiro insuportável. Este período foi chamado de triagem. Após estes dias terríveis, o protagonista foi levado para uma cela maior, com menos detentos.

"Nunca me esquecerei do pior lugar que já visitei. Do desespero que sucedia cada noite mal dormida. Da angústia presente em cada amanhecer. Da multidão de Corpos amontoados como primeiro retrato do dia."

Tinha dias que o desespero e a saudade batiam forte, e nestas ocasiões Thomas chegava até a pensar em suicídio, mas pensava em sua mãe, e achava que o sofrimento seria maior do que ter um filho bandido.

Thomas alternava seus dias entre sentir-se no fundo do poço e acordar sentindo-se em paz. O rapaz relata-nos que alguns presos tinham certas regalias; alguns, ou vários, usavam sem pudor os aparelhos celulares, outros faziam uso de drogas, tanto que em certos horários o ar chegava a ficar com uma aparência turva, e até quem não usava acabava entorpecido pela fumaça tóxica.

"Nunca pensei que a liberdade, dentro de uma prisão, pudesse ser tão grande. Acho que eles, lá fora, é questão realmente presos."

O protagonista conheceu um colega que foi preso por traficar, e continuava fazendo a mesma coisa dentro da cadeia, mas agora para os colegas de cela. Outra situação rotineira eram as brigas entre detentos, que pareciam arranjadas pelos carcereiros. Ele juntavam presos que eram inimigos e estes lutavam até a morte de um deles.

Depois de vinte e dois dias chega a notícia da primeira visita; o coração de Thomas quase sai pela boca, imaginando quem poderia ser... os pais, a mulher, os irmãos... Mas a surpresa foi grande, pois era um advogado, daqueles com frases prontas. A decepção foi imensa; ele começou a acreditar que realmente era o criminoso que todos pensavam. Dias depois, Thomas recebe a visita da mãe. Aquele abraço amoroso deu forças para que ele resistisse mais um pouco. Muitos dias depois, Thomas recebe a visita da esposa, grávida de sete meses, e ele começa a temer o futuro do filho, chegando a pensar se não seria melhor ela arranjar outro homem, para ajudá-la e protegê-la. Mas esta ideia começa a dar-lhe pesadelos e o rapaz fica com medo de que isto se concretize realmente, principalmente após um colega contar que fora preso por assassinar a esposa e o amante após um flagra bem constrangedor.

Um dia, durante a noite, Thomas vê um movimento estranho na cela e percebe que seus colegas estão arquitetando uma fuga em massa; ele chega a ser convidado a participar, mas alguém os delata e a punição que recebem por tal ato é extremamente dolorida. Após o ocorrido eles são todos transferidos para um cela muito pequena, onde precisam ficar amontoados novamente.

Os dias vão passando, o desespero e a depressão vão fazendo-se presente... Thomas chega a ter um colapso nervoso e precisa de atendimento médico. Mais tarde rende-se ao uso de entorpecentes, pois naqueles momentos de alucinação encontrava paz e esquecia a realidade que estava vivendo.

"Esqueci tudo o que havia acontecido e me enchi de serenidade. Renovei minhas esperanças no amanhã."

Logo após chegar a noticia de que o culpado por sua prisão fora preso, vem a surpresa maior: o meliante seria seu colega de cela. Imediatamente Thomas começa a planejar a vingança, mas tem em mente que se fizer justiça com as próprias mãos, talvez nunca saia daquele inferno de concreto.

Surpreendeu-me a escrita do autor. O livro é todo composto por frases de uma a duas linhas; foram raras as vezes que passou deste número. Muitas vezes os acontecimentos eram descritos em forma de metáforas, o que eu achei extremamente inteligente e sagaz. A descrição das cenas fez-me sentir parte do enredo, eu envolvo-me muito facilmente com os personagens, chego a sentir o que eles estão sentindo, então do meio para o final a leitura foi tensa e intensa. A "cereja do bolo" o autor guardou para o final... Mas o que eu quero dizer com isto? Vocês só saberão se ler.