[Resenha] O sol na cabeça | Geovani Martins

O sol na cabeça

Autor(a): Geovani Martins
Editora: Companhia das letras
Páginas: 120
Resenha por: Larissa

Avaliação: 4/5
Compre: Americanas / Editora

*Livro cedido pela editora para resenha


Sinopse: O sol carioca esquenta a prosa destes treze contos que retratam a infância e a adolescência de moradores de favelas como jamais foram retratados. O prazer dos banhos de mar, as brincadeiras de rua, a adrenalina da pichação, as paqueras e o barato do baseado são modulados tanto pela violência da polícia e do tráfico quanto pela discriminação racial indisfarçável no olhar da classe média amedrontada. Com a estreia de Geovani Martins, a literatura brasileira encontra a voz de seu novo realismo.

Resenha: Esse é um livro de conto onde o autor nos leva diretamente para a favela do Rio de Janeiro, mostrando-nos um pouco de tudo que acontece por lá.

O primeiro texto, "Rolezim", narra-nos, como já diz o título, um "rolezinho" durante um dia do nosso protagonista em uma praia. Na volta para casa ele e seus amigos são parados pela polícia. Será que irão escapar ilesos?

Em "Espiral" nosso personagem fala-nos sobre como é triste ver olhares reprovadores em sua direção e pessoas fugindo dele, só por ele morar em um lugar "diferente". O texto fala-nos, basicamente, sobre o preconceito que as pessoas têm dentro de si. Ao notar as reações das pessoas, o rapaz ficou abismado com isso e resolveu passar a observar e investigar melhor o comportamento das pessoas que o olhavam de um jeito "diferente". Para isso, resolveu seguir um deles, Mário.

"É foda sair do beco, dividindo com canos e mais canos o espaço da escada, atravessar as valas abertas, encarar os olhares dos ratos, desviar a cabeça dos fios de energia elétrica, ver seus amigos de infância portando armas de guerra, pra depois de quinze minutos estar de frente para um condomínio, com plantas ornamentais enfeitando o caminho das grades, e então assistir adolescentes fazendo aulas particulares de tênis. É tudo muito próximo é muito distante. E, quanto mais crescemos, maiores se tornam os muros."

"Roleta-russa" vai apresentar-nos Paulo. O pai do rapaz guarda uma arma em casa - coisa do trabalho -, e durante o texto acompanhamos o desejo e ao mesmo tempo o medo que Paulo tem de admirar a arma do pai quando este não está em casa, pois não quer trair sua confiança.

Em "O rabisco" vamos acompanhar a fuga de um pichador que, decidido a não mais fazer seus rabiscos por causa do seu filho, acabou cedendo ao vício e precisa, então, fugir da polícia ao ser descoberto.

No texto "O cego" somos apresentados ao seu Matias, um homem que nasceu cego já. Com o intuito de ganhar dinheiro com isso, o rapaz espalha sua história de vida nos coletivos, emocionando à todos. Porém, com o tempo, isso parece não gerar mais tanto lucro. No fim, ele acaba tendo o mesmo destino que todos os outros...

O texto "Os mistérios da vila" traz-nos dona Iara, uma macumbeira, que rende muitas brincadeiras e histórias assustadoras entre as crianças moradoras da vila.

Os textos são escritos, principalmente os diálogos, da mesma forma como os moradores da favela costumam falar - creio eu -, fazendo uso de gírias e expressões com as quais não estou acostumada, então confesso que fiquei sem entender algumas palavras ou frases, mas nada que afetasse meu entendimento geral da leitura. O autor narra-nos os fatos e acontecimentos das favelas do Rio de Janeiro de uma forma tão natural e cotidiana que é impossível não nos sentirmos dentro da própria favela; até mesmo eu, que não tenho muito conhecimento de como é a vida por lá, senti que estava dentro do local.

É um livro muito bacana para quem quer conhecer o lado menos favorecido do Rio de Janeiro, que nos mostra absolutamente todas as atrocidades deste "mundo". Foi muito bom ter tido a oportunidade de ler essa obra!

"Existia de alguma forma, naqueles momentos em que me juntava com os amigos pra queimar um baseado, uma sensação de que a vida podia ser boa, que ela não precisava ser essa loucura que ensinam pra gente desde pequeno, essa pressa, essa caretice toda."