Autor(a): Daniela Arbex
Editora: Intrínseca
Páginas: 248
Resenha por: Viviane
Avaliação: 5/5
Compre: Americanas
Sinopse: Reportagem definitiva sobre a tragédia que abateu a cidade de Santa Maria em 2013 relembra e homenageia os 242 mortos no incêndio da Boate Kiss.
Daniela Arbex reafirma seu lugar como uma das jornalistas mais relevantes do país, veterana em reportagens de fôlego - premiada por duas vezes com o prêmio Jabuti - ao reconstituir de maneira sensível e inédita os eventos da madrugada de 27 de janeiro de 2013, quando a cidade de Santa Maria perdeu de uma só vez 242 vidas.
Foram necessárias centenas de horas dos depoimentos de sobreviventes, familiares das vítimas, equipes de resgate e profissionais da área da saúde - ouvidos pela primeira vez neste livro -, para sentir e entender a verdadeira dimensão de uma tragédia sobre a qual já se pensava saber quase tudo. A autora construiu um memorial contra o esquecimento dessa noite tenebrosa, que nos transporta até o momento em que as pessoas se amontoaram nos banheiros da Kiss em busca de ar, ao ginásio onde pais foram buscar seus filhos mortos, aos hospitais onde se tentava desesperadamente salvar as vidas que se esvaíam. Foi também em busca dos que continuam vivos, dos dias seguintes, das consequências de descuidos banalizados por empresários, políticos e cidadãos.
A leitura de "Todo dia a mesma noite" é uma dolorosa e necessária tomada de consciência, um despertar de empatia pelos jovens que tiveram seus futuros barbaramente arrancados. Enxergá-los vividamente no livro é um exercício que afasta qualquer apaziguamento que possamos sentir em relação ao crime, ainda impune.
Resenha: Há exatos cinco anos, em Santa Maria, RS, minha cidade, ocorreu a maior tragédia de nossa história, segunda maior do Brasil e terceira maior do mundo: o incêndio da boate Kiss.
Recentemente a escritora Daniela Arbex esteve em Santa Maria para o lançamento do livro "Toda dia a mesma noite", pela editora Intrínseca, evento que preferi não estar presente por imaginar o clima triste que estaria no local.
O livro foi fruto de uma pesquisa de dois anos e conta com detalhes os momentos que se seguiram à tragédia. Os depoimentos são narrados por bombeiros, socorristas, enfermeiros, pais e sobrevivente daquele inesquecível 27 de janeiro de 2013. O incidente resultou em 242 mortes e quase 700 feridos; muitos dos sobreviventes até hoje fazem tratamento contínuo, pois a exposição à gases tóxicos deixou severas sequelas respiratórias.
Exames após o ocorrido indicaram que o gás toxico era cianeto, o mesmo usados em câmaras de gás, durante o holocausto, consequência da queima da espuma de baixa qualidade e inapropriada que usaram para a vedação de som. Isso explica porque a maioria das vítimas não estava queimada ou com ferimentos aparentes, apenas fuligem pelo corpo e rosto. Outro fator que contribuiu para esse número absurdo de mortes foi que a casa noturna estava com o dobro da capacidade de frequentadores e tinha apenas uma saída, que inicialmente foi bloqueada por seguranças que exigiam o pagamento da comanda antes dos jovens saírem.
Desde as primeiras páginas já é possível emocionar-se. A primeira narração é do bombeiro que, quando foi chamado, não fazia ideia do que ia encontrar. Os depoimentos mais fortes e impactantes foram os dos pais em busca de notícias, recorrendo a todos os hospitais e pronto socorros da cidade; o último lugar que todos queriam ir procurar seus filhos era o ginásio CDM (Centro Desportivo Municipal), local onde eram levados os mortos para posterior reconhecimento dos familiares.
Cerca de 50 feridos precisaram ser levados para centros de queimados, como Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, então todos os órgãos precisaram mobilizar-se e ajudar, inclusive o exército e a base aérea, que fazia a remoção com helicópteros.
Eu lembro como se fosse hoje da minha mãe me ligando cedo para saber se eu já sabia da tragédia, que a princípio tinha 20 mortos, segundo as notícias; achei um exagero, pensei que não deveriam ser nem 10 mortes, já que minha mãe é meio exagerada. Mas liguei o rádio na Gaúcha FM e fiquei ouvindo; o número de vítimas só ia aumentando: 50, 100, 120, e no final do dia... 233 vítimas fatais. Outras 9 pessoas iriam morrer nos dias que se seguiriam.
Os caixões esgotaram-se, familiares precisaram recorrer à funerárias da região, os preços ficaram abusivos, já não tinha transporte adequado para carregar os mortos até os cemitérios, familiares precisaram levá-los em veículos particulares ou caminhões. Na segunda feira, todos já tinham sido enterrados, na cidade ou em suas terras natais.
Naquela primeira semana após a tragédia, a cidade parecia morta, não se ouviam buzinas, gritos, as lojas e bancos ficaram vazios, bem diferente da agitação diária de uma cidade de quase 300 mil habitantes.
Aos poucos a vida foi retomando o curso e voltando ao normal. Hoje, as regras para funcionamento de qualquer estabelecimento comercial, principalmente casas noturnas, ficaram muito mais rígidas, todo comércio tem que ter no mínimo duas pessoas treinadas a usar extintores em um princípio de incêndio.
Apesar de morar aqui, li muita coisa no livro que eu não tinha conhecimento. Foi uma leitura muito triste, mas uma forma a mais de não deixar, nunca, que esta tragédia seja esquecida.
Algumas frases dos depoimentos que considerei as mais impactantes:
Compre: Americanas
Sinopse: Reportagem definitiva sobre a tragédia que abateu a cidade de Santa Maria em 2013 relembra e homenageia os 242 mortos no incêndio da Boate Kiss.
Daniela Arbex reafirma seu lugar como uma das jornalistas mais relevantes do país, veterana em reportagens de fôlego - premiada por duas vezes com o prêmio Jabuti - ao reconstituir de maneira sensível e inédita os eventos da madrugada de 27 de janeiro de 2013, quando a cidade de Santa Maria perdeu de uma só vez 242 vidas.
Foram necessárias centenas de horas dos depoimentos de sobreviventes, familiares das vítimas, equipes de resgate e profissionais da área da saúde - ouvidos pela primeira vez neste livro -, para sentir e entender a verdadeira dimensão de uma tragédia sobre a qual já se pensava saber quase tudo. A autora construiu um memorial contra o esquecimento dessa noite tenebrosa, que nos transporta até o momento em que as pessoas se amontoaram nos banheiros da Kiss em busca de ar, ao ginásio onde pais foram buscar seus filhos mortos, aos hospitais onde se tentava desesperadamente salvar as vidas que se esvaíam. Foi também em busca dos que continuam vivos, dos dias seguintes, das consequências de descuidos banalizados por empresários, políticos e cidadãos.
A leitura de "Todo dia a mesma noite" é uma dolorosa e necessária tomada de consciência, um despertar de empatia pelos jovens que tiveram seus futuros barbaramente arrancados. Enxergá-los vividamente no livro é um exercício que afasta qualquer apaziguamento que possamos sentir em relação ao crime, ainda impune.
Resenha: Há exatos cinco anos, em Santa Maria, RS, minha cidade, ocorreu a maior tragédia de nossa história, segunda maior do Brasil e terceira maior do mundo: o incêndio da boate Kiss.
Recentemente a escritora Daniela Arbex esteve em Santa Maria para o lançamento do livro "Toda dia a mesma noite", pela editora Intrínseca, evento que preferi não estar presente por imaginar o clima triste que estaria no local.
O livro foi fruto de uma pesquisa de dois anos e conta com detalhes os momentos que se seguiram à tragédia. Os depoimentos são narrados por bombeiros, socorristas, enfermeiros, pais e sobrevivente daquele inesquecível 27 de janeiro de 2013. O incidente resultou em 242 mortes e quase 700 feridos; muitos dos sobreviventes até hoje fazem tratamento contínuo, pois a exposição à gases tóxicos deixou severas sequelas respiratórias.
Exames após o ocorrido indicaram que o gás toxico era cianeto, o mesmo usados em câmaras de gás, durante o holocausto, consequência da queima da espuma de baixa qualidade e inapropriada que usaram para a vedação de som. Isso explica porque a maioria das vítimas não estava queimada ou com ferimentos aparentes, apenas fuligem pelo corpo e rosto. Outro fator que contribuiu para esse número absurdo de mortes foi que a casa noturna estava com o dobro da capacidade de frequentadores e tinha apenas uma saída, que inicialmente foi bloqueada por seguranças que exigiam o pagamento da comanda antes dos jovens saírem.
Desde as primeiras páginas já é possível emocionar-se. A primeira narração é do bombeiro que, quando foi chamado, não fazia ideia do que ia encontrar. Os depoimentos mais fortes e impactantes foram os dos pais em busca de notícias, recorrendo a todos os hospitais e pronto socorros da cidade; o último lugar que todos queriam ir procurar seus filhos era o ginásio CDM (Centro Desportivo Municipal), local onde eram levados os mortos para posterior reconhecimento dos familiares.
"Não havia como ficar imune ao sofrimento provocado pela tragédia. Naquele domingo, a cidade inteira tinha seu coração preso dentro de um ginásio."
Cerca de 50 feridos precisaram ser levados para centros de queimados, como Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, então todos os órgãos precisaram mobilizar-se e ajudar, inclusive o exército e a base aérea, que fazia a remoção com helicópteros.
Eu lembro como se fosse hoje da minha mãe me ligando cedo para saber se eu já sabia da tragédia, que a princípio tinha 20 mortos, segundo as notícias; achei um exagero, pensei que não deveriam ser nem 10 mortes, já que minha mãe é meio exagerada. Mas liguei o rádio na Gaúcha FM e fiquei ouvindo; o número de vítimas só ia aumentando: 50, 100, 120, e no final do dia... 233 vítimas fatais. Outras 9 pessoas iriam morrer nos dias que se seguiriam.
Os caixões esgotaram-se, familiares precisaram recorrer à funerárias da região, os preços ficaram abusivos, já não tinha transporte adequado para carregar os mortos até os cemitérios, familiares precisaram levá-los em veículos particulares ou caminhões. Na segunda feira, todos já tinham sido enterrados, na cidade ou em suas terras natais.
Naquela primeira semana após a tragédia, a cidade parecia morta, não se ouviam buzinas, gritos, as lojas e bancos ficaram vazios, bem diferente da agitação diária de uma cidade de quase 300 mil habitantes.
"A cidade estava diferente, sombria, mergulhada em tristeza."
Aos poucos a vida foi retomando o curso e voltando ao normal. Hoje, as regras para funcionamento de qualquer estabelecimento comercial, principalmente casas noturnas, ficaram muito mais rígidas, todo comércio tem que ter no mínimo duas pessoas treinadas a usar extintores em um princípio de incêndio.
Apesar de morar aqui, li muita coisa no livro que eu não tinha conhecimento. Foi uma leitura muito triste, mas uma forma a mais de não deixar, nunca, que esta tragédia seja esquecida.
Algumas frases dos depoimentos que considerei as mais impactantes:
"Não perdi ninguém próximo, mas sinto que perdi alguma coisa."
"Alguns policiais que entraram na Kiss tiveram crises de choro. Incomodada, Liliane não conseguiu se conter. - Por favor, não chorem. Se vocês chorarem, quem vai fazer as coisas por aqui? Nós não temos o direito de fraquejar. O pior já aconteceu. O nosso trabalho esta manhã é entregar esses meninos e meninas para os pais o mais rápido possível. E nós vamos fazer isso, juntos. Todos aqui sabem que qualquer tempo conta para quem espera por um filho. E os pais de Santa Maria precisam fazer o seu luto. Não é hora de chorar."
"Ita, a minha esperança é que as gurias estejam dormindo em casa com os nossos genros. Mas, se o pior tiver acontecido às nossas filhas, acho que não temos outra saída a não ser nos matar. / A dona de casa não teve forças para responder, embora concordasse com o plano de suicídio. Para ela, a mínima possibilidade de viver sem Greicy e Patrícia já era uma sentença de morte."
"Não seria nada fácil carregar o rótulo de sobrevivente. Depois da Kiss, ninguém seria mais o mesmo. Ninguém."
"Para quem perdeu um pedaço de si na Kiss, todo dia é 27. É como se o tempo tivesse congelado em janeiro de 2013, em um último aceno, na lembrança das últimas palavras trocadas com os entes queridos que se foram, de frases que soarão sempre como uma despedida velada. Retomar uma história brutalmente interrompida sem os personagens principais exige uma reinvenção de si mesmo."
"Durante as madrugadas, a luz do cômodo onde a filha dormiu por 22 anos permanece acesa. É sua forma de lidar com a ausência dela. Quantos quartos em Santa Maria estarão com as luzes acesas agora?"
Também lembro daquele domingo, quando acordei e assisti a notícia em um plantão da RBS. Foi surreal! Resenha emocionante, e o livro deve ser muito mais. Fiquei com vontade de ler, apesar de saber que vou me emocionar muito.
ResponderExcluirResenha emocionante e de uma sensibilidade incrível, lembro de estar no parque e ver a movimentação dos helicópteros chegando em Porto Alegre. Muita tristeza e por isso ainda não tinha pensado em ler o livro mas agora acho de grande importância que TODO o mundo tenha conhecimento de tudo que aconteceu naquela noite.
ResponderExcluirUma noite trágica que mexeu com todos. Infelizmente não serviu de alerta, visto que ainda é possível encontrar muito estabelecimento fora de padrão, a espera de outra tragédia. A leitura deve ser mesmo emocionante, daquelas que me fazem chorar do início ao fim. Só lendo os quotes, chorei.
ResponderExcluirBjs, Rose
Uma noite trágica. Lembro quando saiu a noticia sobre o caso e fiquei desesperada mesmo não morando na região. Pensei em todas as pessoas envolvidas, nas vitimas e seus familiares. E é uma cena que não apaga,né? =/ Anotei a dica de leitura, deve ser bem pesado reviver tudo isso, mas é algo que nunca deve ser esquecido
ResponderExcluirBeijos
Sai da Minha Lente
Uma tragédia que até hoje mexe comigo e olha que nem sou do Sul, mas sou humana e sei quantas vidas se perderam lá. Tenho certeza de que é uma leitura que me emocionaria também, pois só em ler aqui a saga dos moradores da cidade eu senti os olhos cheios de lágrimas. Sem dúvida é uma leitura que quero fazer.
ResponderExcluirAbraços.
https://cabinedeleitura0.blogspot.com.br/
Olá!
ResponderExcluirEssa tragédia já passou há bastante tempo. Como passa rápido. Lembro que fiquei impactada com o que aconteceu e imaginando a agonia das pessoas pra sairem daquele local.
Acho que não leria esse livro, por causa desse sofrimento todo.
Beijos!
Camila de Moraes.
Oii!
ResponderExcluirQuando eu vi que era Daniela Arbex, já esperei a pancada. Eu li Holocausto Brasileiro e chorei demais! Apesar de triste, foi uma leitura necessária e eu tenho certeza que essa vai ser a mesma coisa.
Amei a resenha e com certeza eu ou ler o livro!
Beijo
Canastra Literária
Olá,
ResponderExcluirNunca esqueço o plantão de notícias dando essa informação tão trágica aqui na cidade.
Não sei se teria estomago para ler esse livro, porque o leitor sente a dor, sofrimento e saudade dos familiares e principalmente a revolta dos envolvidos.
Beijos!
Olá!!!
ResponderExcluirEu ainda não conhecia o trabalho da Daniela!! Sua resenha me deixou muito emocionada e me fez lembrar do domingo que aconteceu a tragédia.
Dica anotada!!!
Meu Deus, Vivi, lembro dessa tragédia que chocou o país. É impressionante e revoltante que para se tomar providências de segurança sempre é preciso que aconteça uma tragédia assim.
ResponderExcluirA sua resenha está absolutamente envolvente e me fez refletir sobre algumas questões, principalmente o quão efêmera pode ser é a vida e no caso da tragédia de Santa Maria sem controle.
Bjo
Tânia Bueno
É difícil esquecer uma tragédia dessa, mesmo para quem só a "viveu" pelos noticiários.
ResponderExcluirEsse é o tipo de livro que eu não conseguiria ler - por carregar tanta dor. Acho que eu ficaria muito transtornada de ler os depoimentos por completo. Só de ler sua resenha já me partiu o coração.
Beijos,
www.degradeinvisivel.com.br
Eu lembro quando aconteceu o incêndio, passei o dia acompanhando as notícias pela TV, foi muito triste (ainda é muito triste). Eu não teria coragem para ler esse livro.
ResponderExcluirOiii!
ResponderExcluirMe lembro da sensação de impotencia ao ler as matérias sobre o ocorrido. Não tive oportunidade nem sei se teria coragem de ler a obra, mas gostei muito de ver suas considerações sobre o livro.
Beijnhos,
Olá! Essa tragédia aconteceu há cinco anos, mas vai ficar na memória de muitos brasileiros por muito tempo. Quero muito ler esse livro para conhecer mais essas pessoas, mas sei que vai ser uma leitura muito dolorosa. Não tem como se emocionar.
ResponderExcluirAbraço!
Recordo do acidente da Boate Kiss, a comoção nacional, sofrimento e tristeza. 'Os caixões esgotaram-se, familiares precisaram recorrer à funerárias da região, os preços ficaram abusivos, ' o ser humano é digno de desprezo mesmo, diante de algo tão cruel, o preço do caixão fica abusivo, o resultado do capitalismo é esse, um coletivo egoísta e perverso. Quero ler esse livro.
ResponderExcluirGente que horror isso de ser o mesmo gás do holocausto. Eu lembro até hoje da reportagem, foram cenas tristes de ver, uma noticia terrível. Não conhecia o livro, adorei sua resenha, muito bem escrita e quero muito ler o livro, sei que a leitura deve ser muito triste, mas gostaria de saber mais a respeito.
ResponderExcluirSó de lembrar que essa tragédia aconteceu já me sinto muito mal. Não é um livro que gostaria de ler. Mas o acontecido aí com certeza ensinou algo a todos nós. No mínimo me deixou bem mais atenta a rotas de saída em caso de incêndio e me mostrou que não dá pra frequentar locais que não oferecem a segurança necessária. Até hoje não consigo aceitar que pessoas não se salvaram pela exigência de pagarem a conta antes de sair do local. A dor dessas famílias é inimaginável para mim.
ResponderExcluir