03/09/2018

[Resenha] A bruxa da Sapolândia | André Alvez

A bruxa da Sapolândia

Autor(a): André Alvez
Editora: Chiado
Páginas: 488
Resenha por: Viviane
Avaliação: 4/5
Compre: Autor / Editora

*Livro cedido pelo autor para resenha


Sinopse: Quando o gato de uma bruxa decide revelar a história de sua dona, é bom parar para ouvir o que ele tem para contar...

Houve um tempo, lá pelos idos anos sessenta do século passado, no qual existia em Campo Grande uma região conhecida por Sapolândia. Diversos veios d'água cortavam o lugar, avançando entre as raízes de árvores mortas, formando lagoas pelas quais uma quantidade imensa de sapos reinavam, transformando as noites e as madrugadas numa imensa sonata de coaxos.

Perto dali existia uma casa de madeira escura, fechada por uma cerca de balaustre, na qual se destacava um portão de latão que rangia tristemente quando aberto.

Naquela casa residia uma mulher chamada Célia. Seus atos de pura maldade, especialmente contra crianças, logo a transformaram num mito, sendo conhecida inapropriadamente pela alcunha de bruxa: A bruxa da Sapolândia. Diversos outros personagens cativantes aparecem nessa envolvente narrativa; como Sofia - um ser de difícil definição -; Natanael, menino que viaja no tempo levado pelas sombras amigas; as sete crianças que percorrem as páginas do romance de forma cativante e emocionante, expondo as feridas abertas pela maldade humana. Outros personagens se destacam: Ladim, o jovem destemido que se alimentava de cobras; Doralice, irmã de Célia, aquela que carrega no ventre a reencarnação do mal; José Rosa, o gigante.

Esses e muitos outros personagens transformam a leitura de A "Bruxa da Sapolândia" numa leitura repleta de mistérios.

Resenha: "A bruxa da Sapolândia" foi um livro muito enigmático, que tirou-me completamente da minha zona de conforto.

Basicamente a obra é narrada por um gato, e tudo o que está "acontecendo" já aconteceu há uns cem anos, mas está tudo muito vivo na memória do gato, Ranulfo, que pertenceu a uma bruxa.

No primeiro capítulo vamos conhecer um personagem, que parece viver nos dias atuais, mas que só bem adiante, na leitura, descobriremos quem é. Ele é o atual dono do gato e nesta casa vive também uma figura, - que, durante toda a leitura, não consegui ter certeza se é real -, Sofia, que o gato vê o tempo todo, desde sempre, mas nem todo mundo vê, e como ela parece ser descrita jovem, ou ela é eterna, como o gato, ou é um fantasma. Mas a narrativa é o seguinte: cada vez que este personagem - que depois vamos descobrir ser Natanael, ou Edward, que é como ele gosta de ser chamado, e era uma criança na época da bruxa da Sapolândia - toca no gato, ele vê todas as suas memórias.

"Tinham-me como um anjo, mas eu era apenas um menino estranho, quase tão assustado quanto elas."

Célia é a bruxa. Quando ela nasceu sua mãe quis matá-la, de tão horrenda que a pobre bebê era, e o pai impediu, ficando escondido por dias na mata com a criança e a alimentando com pequenos animais mortos. Quando voltaram a mãe conformou-se e amamentou a filha. Sempre a manteve escondida, pois quem a via dizia ser o diabo. Um dia, com Célia já maiorzinha, sua mãe a levou até uma feiticeira e, ao chegar lá, descobriram que a mulher tinha morrido e ao aparecer uma figura muito sinistra, que se chamava Vigário e era um espírito do mal, foi revelado que a mãe tentou abortar Célia com a ajuda desta feiticeira e que o bebê ficou quase dois anos em seu ventre, por isso as deformações na face, mas Vigário disse que Célia era sua protegida e que estaria sempre ao lado dela, inclusive deu à criança uma espécie de amuleto, que ela deveria carregar sempre consigo.

Daquele dia em diante Célia passou a sonhar com Vigário, que passava-lhe instruções, mas ele sumiu por um tempo. Nesta época Célia adota o gato, a quem chama de Ranulfo e, mais tarde, somente de Gato.

Célia teve um irmão mais velho, Antônio, e ambos foram abandonados pelo pai. A mãe casou-se de novo e teve Doralice, a mais linda das criaturas. Quando Antônio e Célia estavam maiores, já na adolescência, o padrasto espancava Antônio e este descarregava sua ira em Célia, além de que o padrasto estuprava a garota, então chegou o dia em que a moça não aguentou mais as agressões dos dois homens e seus poderes de bruxa começaram a aflorar. Ambos, após tomarem a maior surra de Célia, sumiram no mundo, por medo ou vergonha.

Célia tinha um destino, uma missão: trazer à vida (reencarnar) Vigário, mas ela não poderia, pois devido às tentativas de aborto da sua mãe, nascera infértil. Então este fardo foi passado para Doralice, o que não acabou bem para Doralice, é claro. Com a morte da mãe das meninas, elas receberam a ordem de se mudar para Campo Grande (a história passa-se no Mato Grosso do Sul em uma época em que nem existia energia elétrica). Chegando lá, Doralice foge de casa e encontra seu amor, e Célia arruma um amante para ajudá-la nas maldades. Eles moram em uma região meio afastada da cidade e lá existem lagos e milhares de sapos, por isso o nome Sapolândia.

Para se sustentar, inicialmente, Célia cria poções e vende. Logo começa a fazer feitiços usando os sapos, nos quais ela corta-lhes a barriga e costura dentro uma foto de quem alguém quer se livrar, e a pessoa da foto seca e morre lentamente, igual a um sapo. Depois começa a abrigar crianças, que os pais precisam deixar para ir trabalhar fora, em troca de algum dinheiro, e é aí que os horrores começam; a bruxa começa a fazer seções de cura com sangue das crianças e ninguém, ou quase ninguém, ousa enfrentá-la. Com quase uma dezena de crianças mal alimentadas e seminuas as mortes infantis começam a acontecer e um grupo de homens precisa tirar força e coragem de onde não existe para enfrentar a bruxa.

"Aquela gente possuía a capacidade de afugentar as pessoas. Não apenas por causa da feiura estampada no rosto, mas pelo comportamento; eram todos pessoas esquisitas, que pareciam viver em outro mundo. Um mundo de pesadelos."

Como eu disse no começo, o livro é narrado pelo gato, mas é Natanael quem vê e ouve suas memórias, então como de certa forma os dois narram, em alguns trechos eu demorei bastante para entender quem estava falando; às vezes eu imaginava o gato na cena, mas descobris ser o homem, então mudava toda a minha percepção da história; isso tornou um pouco cansativa e longa a leitura, porque às vezes eu precisava voltar e ler de novo, mas não tirou o brilho da história, que foi bem diferente de tudo o que já li e, como eu disse, gosto de histórias que me tiram da minha zona de conforto, que é uma narrativa linear e sempre com o mesmo narrador.

11 comentários:

  1. AHHHH que já gostei só pelo fato da narrativa ser de um gato =P
    Mas vi que por mais que tenha duas perspectivas isso ficou confuso na trama... bom, como gostei da premissa acredito que daria uma chance pra história

    Sai da Minha Lente

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  2. Realmente é algo bem diferente, a narrativa a partir do ponto de vista de um gato e suas memórias é algo que foge do comum, confesso que nunca rinha visto, ponto positivo, né? Adorei. Achei o título bem diferente também, vale a experiência.

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  3. Olá!
    A ideia de o livro ser narrado por um gato é bem interessante e inusitada, mas achei o livro bastante confuso. O fato de ficar nessa dúvida sobre quem está narrando e precisar se situar na história é um ponto super negativo para mim. Mas, tenho que confessar, gostei da bruxa Célia. Acho que é uma dica que vou anotar, mas não para ler tão cedo rs.
    Beijos

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  4. Olá.
    Eu por mais que eu tente ler livros diferentes esse não me chamou atenção e eu não me vejo lendo um livro assim então eu deixo a dica passar

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  5. Oiii meninas

    Às vezes é bom sair da zona de conforto, acho que nunca li livros narrados por animais, ou como esse onde se intercalam o personagem humano e o gato. Não sei dizer se leria, mas que é bem diferente dos livros típicos que a gente vê, isso é.

    Beijokas

    www.derepentenoultimolivro.com

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  6. Que premissa mais interessante!
    Eu ainda não conhecia esse livro e pelo título eu acho que não me interessaria tanto por ele, mas lendo a sua resenha eu fiquei bem curiosa para acompanhar tudo isso. Achei uma história bastante original e adorei a resenha.

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  7. Oi, tudo bem!?
    Que legal saber que o livro é narrado por um gato. AMO gatos ahuauha
    Apesar da sua resneha bem completa e da narrativa do gato, não sei se leria o livro, pelo menos, não por agora. A capa é muito lindinha, mas a narrativa me pareceu confusa.
    Acho que vou contratar a Célia para fazer uns feitiços e sumir com umas pessoas pra mim hauhauhauhauha
    Beijosss!!

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  8. Confesso que não curto livros assim em absoluto, ainda mais quando a leitura se torna confusa e cansativa, ai que fico menos animada ainda para ler, mas de qualquer forma, muito obrigada pela indicação meu bem, que bom que conseguiu concluir a leitura e ainda assim gostar do livro.

    Beijos

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  9. Olá!
    Confesso que quando eu li a sinopse, de início eu pensei que fosse um livro infantil. Sério! Mas aí fui lendo sua resenha e percebendo que tinha muita coisa que não dava mesmo para ser infantil. Parece algo bem mais pesado do que eu esperava, mas parecer ser interessante. Fiquei bem curiosa e estou anotando a dica.
    Abraços

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  10. Olha, antes de ver o número de páginas, pela capa e pelo título achei que o livro era infantil... Mas vi o quanto me enganei ao ler sua resenha. Algumas coisas que você descreveu embrulharam meu estômago, como usar o sangue das crianças para cura, e nao curto leituras que têm esse efeito sobre mim. Passo a dica.

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  11. Olá,
    Eu achei que era um livro infantil pelo título e capa, mas lendo sua resenha creio que tudo é bem assustador para ser infantil hehehe. Tudo meio que nojento, seja por conta dos animais usados (argh!) até pelas descrições. Não sou fã de mais de um ponto de vista na narração, mas gostei de ser um gato, parece bem diferente do comum.

    Debyh
    Eu Insisto

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