[Resenha] Carta a D. | André Gorz

Carta a D.

Autor(a): André Gorz
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 104
Resenha por: Larissa

Avaliação: 4/5
Compre: Americanas / Editora

*Livro cedido pela editora para resenha


Sinopse: Um dos principais filósofos do pós-guerra francês, André Gorz escreveu inúmeros livros influentes, mas nenhuma de suas obras será tão amplamente lida e lembrada quanto esta carta simples e bela a Dorine, mulher ao lado de quem passou a vida e que havia anos sofria de uma doença degenerativa incurável.

Na carta, Gorz rememora a história de amor e militância do casal, assim como a trajetória intelectual que percorreram juntos e que se confunde com a própria história da Europa após a Segunda Guerra Mundial, passando pelo Maio de 68 em Paris até chegar ao início do século XXI.

Em 2007, um ano após a publicação de Carta a D., um bilhete encontrado na casa onde moravam fez as vezes de pós-escrito à narrativa: André e Dorine tiraram a própria vida juntos, numa comovente renúncia a viver sozinhos. Uma das declarações de amor mais conhecidas de nosso tempo, este livro é também uma afirmação emocionante de companheirismo entre duas pessoas apaixonadas.

Resenha: André Gorz foi o pseudônimo de um filósofo francês pós-guerra, que teve como nome verdadeiro Gerhart Hirsch. O autor foi jornalista e escritor ao longo de sua vida (andei dando uma pesquisada, e aqui estão alguns livros dele: Le Traître, Le Socialisme Difficile, L'Immatériel).

Nesse livro, o mais emocionante e belo do escritor, iremos conhecer, centralmente, a linda história que o autor viveu com Dorine, sua paixão.

A obra é um relato tanto da história de amor do autor com sua esposa, quanto da sua própria história. Aqui iremos saber coisas íntimas da vida do autor, como por exemplo: a dificuldade que André teve para casar-se com Dorine, já que naquela época tudo girava em torno de questões financeiras; as dificuldades que teve para conseguir emprego e os tantos lugares pelos quais passou até conseguir estabilidade, entre outras.

Dorine não teve uma infância fácil; ainda pequena presenciou a falta de amor na união de seus pais, por isso passou a ser desacreditada em questões de amor e casamento.

"Eu posso imaginar a sua perturbação, a sua solidão. Você pensava que, se o amor fosse aquilo, se um casal fosse aquilo, seria preferível viver sozinha e nunca se apaixonar. E como as disputas dos seus pais eram principalmente sobre questões de dinheiro, você pensava que para ser verdadeiro o amor deveria desprezar o dinheiro."

Uma parte que achei muito interessante é a que o autor fala sobre os livros que escreveu. Quando ele criava uma personagem inspirada em sua mulher, sempre a desprezava em suas descrições. André explica na carta o porque de ter humilhado e desfigurado Dorine em seus livros. Sempre foi uma questão puramente de venda, já que ele a amava muito e verdadeiramente.

"Estar completamente apaixonado pela primeira vez, ser amado de volta, era aparentemente banal demais, e privado demais, comum demais: não era uma matéria apropriada para me fazer atingir o universal. Um amor naufragado, impossível, isso sim, ao contrário, rende a nobre literatura."

Infelizmente, em meio à toda essa linda história de amor, Dorine foi descoberta com uma doença sem cura na época, o que fez com que o casal se suicidasse junto (não é spoiler, pois a informação encontra-se na orelha do livro).

"Você acabou de fazer oitenta e dois anos. Continua bela, graciosa e desejável. Faz cinquenta e oito anos que vivemos juntos, e amo você mais do que nunca. Recentemente, eu me apaixonei por você mais uma vez, e sinto em mim, de novo, um vazio devorador, que só o seu corpo estreitado contra o meu pode preencher."

É nítido o amor que ambos sentiam um pelo outro. Dorine e André foram duas pessoas que o destino uniu a fim de torná-las melhores, a fim de mostrar à eles um caminho pelo qual viver. Eu gostei muito de ter tido a oportunidade de ler esse livro, ou melhor, essa carta, pois ela nos mostra que pode sim existir um amor verdadeiro, mesmo em meio à tantos problemas. Indico demais a leitura!