18/03/2020

[Textualizando] Redes sociais

Olá, livreiras e livreiros! Enquanto a Larissa é fã do gênero poesia, eu tinha um pouco de dificuldade para entendê-las, mas isso foi antes de conhecer o poeta Bráulio Bessa e seus cordéis. Embora o autor tenha ficado famoso após suas participações em um programa de auditório, eu já o conhecia e admirava. Então hoje escolhi compartilhar com vocês um dos meus poemas favoritos dele e que tem tudo a ver com a era digital em que vivemos. Vamos conferir?

Redes sociais

Lá nas redes sociais
o mundo é bem diferente,
dá pra ter milhões de amigos
e mesmo assim ser carente.
Tem like, a tal curtida,
tem todo tipo de vida
pra todo tipo de gente.
Tem gente que é tão feliz
que a vontade é de excluir.
Tem gente que você segue
mas nunca vai lhe seguir.
Tem gente que nem disfarça,
diz que a vida só tem graça
com mais gente pra assistir.
Por falar nisso, tem gente
que esquece de comer,
jogando, batendo papo,
nem sente a fome bater.
Celular virou fogão,
pois no toque de um botão
o rango vem pra você.
Mudou até a rotina
de quem tá se alimentando.
Se a comida for chique,
vai logo fotografando.
Porém, repare, meu povo:
quando é feijão com ovo
não vejo ninguém postando.
Esse mundo virtual
tem feito o povo gastar,
exibir roupas de marca,
ir pra festa, viajar,
e claro, o mais importante,
que é ter, de instante em instante,
um retrato pra postar.
Tem gente que vai pro show
do artista preferido,
no final volta pra casa
sem nada ter assistido,
pois foi lá só pra filmar.
Mas pra ver no celular
nem precisava ter ido.
Lá nas redes sociais
todo mundo é honesto,
é contra a corrupção,
participa de protesto,
porém, sem fazer login,
não é tão bonito assim.
O real é indigesto...
Fura a fila, não respeita
quando o sinal tá fechado,
tenta corromper um guarda
quando está sendo multado.
Depois, quando chega em casa,
digitando manda brasa
criticando um deputado.
Lá nas redes sociais
a tendência é ser juiz
e condenar muitas vezes
sem saber nem o que diz.
Mas não é nenhum segredo
que quando se aponta um dedo
voltam três pro seu nariz.
Conversar por uma tela
é tão frio, tão incerto.
Prefiro pessoalmente,
pra mim sempre foi o certo.
Soa meio destoante,
pois junta quem tá distante
mas afasta quem tá perto.
Tem grupos de todo tipo,
todo tipo de conversa
com assuntos importantes
e outros, nem interessa.
Mas tem uma garantia:
receber durante o dia
um cordel do Bráulio Bessa.
E se você receber
esse singelo cordel
que eu escrevi à mão
num pedaço de papel,
que tem um tom de humor
mas no fundo é um clamor
lhe pedindo pra viver.
Viva a vida e o real,
pois a curtida final
ninguém consegue prever.

Bráulio Bessa

POSTAGEM POR: VIVIANE

4 comentários:

  1. Eu sou apaixonada por poemas e ainda mais por cordel. Eu amo essa literatura e acho ela rica demais. Eu adorei cada verso, ainda mais quando da pra se ouvir carregado de sotaque. Confesso que acabo de me apaixonar por esse poeta.

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  2. Olá!
    Eu gosto muito de poemas e sou muito fã do trabalho do Bráulio. Ele escreve muito bem e possui uma sensibilidade tremenda.
    Gostei muito do poema que você trouxe, realmente as redes sociais tomaram conta da nossas vidas e ajudam muito quando usadas corretamente e com moderação.
    Ainda não havia lido esse, mas como sempre fiquei encantada com a escrita do Bráulio.
    Beijos,
    Blog Subsolo da mente

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  3. Oi Larissa.

    Deu pra entender porque é seu poema favorito, pois ele traz realmente a realidade de algumas pessoas nas redes sociais. Adorei conhecê-lo através da sua postagem.

    Bjos

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  4. Oi, tudo bem?
    Eu também não sou de ler poesia, mas o Braulio tem um dom diferenciado. Ele tem uma capacidade de tocar nossa alma de um jeito único. Quase sempre choro com os poemas dele. Amei esse que você escolheu, porque mais uma vez ele fala com sensibilidade de um assunto que faz parte do nosso cotidiano. Às vezes a gente se importa tanto com as redes sociais, que esquecemos de aproveitar a nossa vida no mundo real. Já quero compartilhar esse poema com todo mundo.
    Beijos!

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